quarta-feira, 26 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
68 POR 68 - 40 anos depois
uma definição: Viva la Revolucion
Marcelo Dolabela
- Originalmente em O Cometa Im(presso), maio de 2008
1. Em 1968, eu tinha 11 anos e morava, em Lajinha, Zona Da Mata mineira, com a minha “grande família”, avó, avô, mãe, pai e seis irmãos.
2. De 1968, lembro-me muito pouco. Curiosamente, lembro-me muito mais de 1964, das noites fatídicas de 31 de março e de 1º de abril. Das minhas tias rezando, sem saber bem o que estava acontecendo.
3. De 1968, lembro-de de duas únicas cenas. Copiando a letra de “Batmacumba”, de uma revista tipo “Grande Hotel”, e do encanto com um artigo de um jornal carioca sobre o Poema-Processo.
4. De 1968, música e poesia de invenção.
5. De 1968, só em meados da década de 1970, já estudante na UFMG, já embrenhado no Movimento Estudantil, é que fui me dar conta, para viver a máxima de Wladimir Maiakovski: “não há arte revolucionária, sem forma revolucionária”.
6. 1968, já foi lido por várias perspectivas (sociais, culturais, políticas, antropológicas, etc.). Mas a que mais coaduna com a multiface do momento – movimento é a da teoria sobre a história do alemão Walter Benjamin.
7. 1968 foi a explosão de um dique. De uma enorme represa. De várias épocas. Várias culturas. Várias batalhas.
8. 1968 foi a síntese do anarquismo primitivo com o materialismo dialético.
9. 1968 foi a síntese da psicodelia com os orientalismos-zen.
10. 1968 – uma definição: “Drop out” / “Pule fora” do sistema.
11. 1968 foi a síntese do hedonismo tântrico com a ira greveira e reivindicatória dos trabalhadores urbanos.
12. 1968 foi a síntese do coletivismo dos Provos e de suas bicicletas brancas com a guerrilha urbana.
13. 1968 foi a síntese de Eros com Thanatos.
14. 1968 foi a síntese de Karl Marx com os Irmãos Marx.
15. 1968 – uma definição: “Abaixo a ditadura” / “Abaixo TODAS as ditaduras”.
16. 1968 foi a síntese da Coca-Cola com o pão integral.
17. 1968 foi a síntese da mini-saia com a Teologia da Libertação.
18. 1968 foi a síntese da pílula anticoncepcional com o pós-Pré-Rafaelismo da moda-hippie.
19. 1968 foi a síntese do teatro de Brecht com o transtropicalismo do grupo Oficina, de Zé Celso.
20. 1968 – uma definição/perjúrio: “Se vocês forem em estética, o que são em política, estamos fritos!” – Caetano Veloso, no discurso-desabafo na canção-happening “É proibido proibir”.
21. 1968 foi a síntese do “the dream is over”, de John Lennon, com “Um, dez, mil Vietnãs”.
22. 1968 foi a síntese do Neodadá do Fluxus (George Maciunas, John Cage e Yoko Ono) com a poesia engajada e contestadora latino-americana.
23. 1968 – uma definição: o poema “Pós-tudo”, de Augusto de Campos: Quis / mudar tudo / mudei tudo / agora pós tudo / ex tudo / mudo.
24. 1968 foi a síntese da arte vitalista da Nouvelle Vague com o virtuosismo do Art-Rock.
25. 1968 foi a síntese do satori metafísico da Pop Art com a Arte Cinética (fria e cerebral).
26. 1968 – uma definição: “Nunca mais cinema arte / mas cinema arma” – Jean-Luc Godard.
27. 1968 foi a síntese dos “infinitos” e “incomíveis” vegetarianismos com as drogas sintéticas.
28. 1968 foi a síntese dos atentados em nome da Revolução com o pacifismo ecológico.
29. 1968 foi a síntese do enfretamento armado com a Pop Music.
30. 1968 foi a síntese do feminismo anglicano com um ônibus movido a ácido.
31. 1968 – uma definição: “É preciso estar atento e forte / não temos tempo de
temer à morte” – “Divino, maravilhoso”, de Gilberto Gil & Caetano Veloso.
32. 1968 foi a síntese de maoístas franceses (preparando um atentado a uma grande corporação yankee) com o canto hare-krishna.
33. 1968 – uma definição: “Quem sabe faz a hora não espera acontecer” – “Caminhando – Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré.
34. 1968 foi a síntese de Carlos Castañeda com o cerebralismo da Poesia Concreta.
35. 1968 foi a síntese da psicanálise estrutural de Jacques Lacan com a psicologia simbólica de Carl Gustav Jung.
36. 1968 foi a síntese da corrida “pacífica” pelos campos inabitáveis da Lua com o furor dos Black Panthers.
37. 1968 foi a síntese de um theremin experimental com um citar eólico.
38. 1968 foi a síntese da Internacional Situacionista com a “porra-louquice total”.
39. 1968 foi a síntese de Deus e o Diabo nas Quatro Estações.
40. 1968 – uma definição: “A fome do absoluto... eu tenho esta fome. Vem comigo, Sara! A vida está acima das horas que vivemos, a vida é uma aventura!” – Paulo Martins (poeta-político) para Sara – no filme “Terra em transe”, de Glauber Rocha.
41. 1968 foi a síntese da urgência uterina de Janis Joplin e da guitarra
lisérgica de Jimi Hendrix com a clarividência de Julian Beck.
42. 1968 foi a síntese da revolução (inconclusa) permanente de Che Guevara com o materialismo cotidiano de Fidel Castro.
43. 1968 foi a síntese da Primavera de Praga com o Outono do Patriarca.
44. 1968 foi a síntese da violência contra os atores da peça “Roda Viva” com Caetano Veloso declamando, irado, trecho do poema-livro “Mensagem”, de Fernando Pessoa.
45. 1968 foi a síntese do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de São Paulo, com o samba-réquiem “Aquele abraço”, de Gilberto Gil.
46. 1968 foi a síntese dos grafites pós-Pompéia – isto é, nas escavações nas
ruínas da cidade de Pompéia, na Itália, soterrada pelas lavras e poeiras do Vulcão Vesúvio -, o primeiro material encontrado foi uma pichação de um “saudável” palavrão”, ao quase acaso da canção-happening “Proibido proibir”, de Caetano Veloso: “O meu empresário Guilherme Araújo leu a frase 'é proibido proibir', achou lindo e me pediu uma canção. Eu falei pra ele que não sabia o que estava acontecendo na França, mas a frase era bonita. Fiz a canção e achei uma bobagem, deixei ela por muito tempo na gaveta.O en¬graçado é que ‘Proibido proibir’ ficou famosa no Bra¬sil não tanto por causa da canção, mas pelo escândalo”.
47. 1968 foi a síntese da ALN – Ação Libertadora Nacional “devolvendo” ao povo, através de “expropriações”, o “dinheiro” da usura capitalista, com a nascente Poesia Marginal, através dos poemas-notícias de Torquato Neto.
48. 1968 foi a síntese do Napalm, jogado covardemente sob o Vietnã, com o flower power hippie.
49. 1968 foi a síntese da Passeata dos Cem Mil, no centro do Rio de Janeiro, com o Black Power – entre funk e conscientização do negro afro-americano.
50. 1968 foi a síntese da VPR – Vanguarda Popular Revolucionária, de Carlos Lamarca, com o “E agora” do AI-5.
51. 1968 foi a síntese The Beatles “meditando” na Índia, com a Polônia em chamas.
52. 1968 foi a síntese da morte do estudante Édson Luís, assassinado por militares cariocas, que invadiram o restaurante universitário Calabouço, com Jim Morrison reencarnando, xamanicamente, Arthur Rimbaud.
53. 1968 foi a síntese de “2001 – Uma Odisséia no espaço”, de Stanley Kubrick, com o cinema-retrô-pop-experimental da Bel Air, de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane
54. 1968 foi a síntese da morte de outro Kennedy – Robert, com o som da Pilantragem e seu iê-iê-iê edulcorado.
55. 1968, no Brasil, tem um disco. O álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”. Com Caetano Veloso, Capinan, Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes, Nara Leão, Rogério Duprat e Torquato Neto.
56. 1968 – uma definição: “Seja marginal – Seja herói” – estandarte de Hélio Oiticica.
57. 1968 foi a síntese de Barbarella com as anti-pin-ups de Guido Crepax (Anita e Valentina).
58. 1968 é um cineasta Jean-Luc Godard. Gravitando no triênio 1967-1968-1969: “La chinoise”; “One plus one”; “Pravda”, com J.-H. Roger & Paul Burron; e “Vent d’Est”, com Jean Pierre Gorin – Grupo Dziga-Vertov. Com Glauber Rocha, em uma encruzilhada, perguntando sobre que direção a revolução deve/está tomando.
59. 1968 – um livro: “A sociedade do espetáculo” – de Guy Debord – remix pop-marxista da vida, no e sob o capitalismo, e de como agir.
60. 1968, no Brasil, ainda tem por trilha sonora: “Divino, maravilhoso”, de Gil & Caetano, com Gal Costa; “Domingo no parque”, de e com Gil; “Alegria, alegria”, de e com Caetano Veloso; “Caminhando – Pra não dizer que não falei de flores”, de e com Geraldo Vandré; “Soy loco por ti América”, de Gil & Capinan, com Caetano, com o LP “A banda tropicalista de Rogério Duprat”.
61. 1968 tem várias personas-ícones. Mas uma, que suicidou 50 anos antes, melhor traduz o incêndio. O poeta russo Wladimir Maiakovski. Que quis unir radicalmente duas díspares vontades tantálicas: a do amor total com a revolução total.
62. 1968 foi a voz oculta de Paulo Martins – citando Mário Faustino, no já mencionado “Terra em transe”, de Glauber Rocha: “Não conseguiu firmar o nome pacto / Entre o cosmos sangrento e a alma pura (...) (Tanta violência, mas tanta ternura)”.
63. 1968 nos ensinou que não é adequado lutar para estabelecer no poder líderes messiânicos, carismáticos ou autoritários.
64. 1968 nos ensinou que a desilusão e o fracasso são sempre maiores do que a derrubada da velha ordem.
65. 1968 nos ensinou, quase maoisticamente, que o fluxo, o refluxo e o contrafluxo da história é um dique.
66. De 1968, uma certeza, estamos em um “falso” “stand by”. As gotas já chegam com violência e ternura no dique. Até quando?
67. De 1968, uma incerteza, fiquemos, por ora, com o poema-réquiem de Alex Polari – “Idílica estudantil”: “Nossa geração teve pouco tempo / começou pelo fim / mas foi bela a nossa procura / ah! moça, como foi bela a nossa procura / mesmo com tanta ilusão perdida / quebrada / mesmo com tanto caco de sonho / onde até hoje / a gente se corta.
68. 1968 – uma definição: Viva la Revolucion.
Marcelo Dolabela
- Originalmente em O Cometa Im(presso), maio de 2008
1. Em 1968, eu tinha 11 anos e morava, em Lajinha, Zona Da Mata mineira, com a minha “grande família”, avó, avô, mãe, pai e seis irmãos.
2. De 1968, lembro-me muito pouco. Curiosamente, lembro-me muito mais de 1964, das noites fatídicas de 31 de março e de 1º de abril. Das minhas tias rezando, sem saber bem o que estava acontecendo.
3. De 1968, lembro-de de duas únicas cenas. Copiando a letra de “Batmacumba”, de uma revista tipo “Grande Hotel”, e do encanto com um artigo de um jornal carioca sobre o Poema-Processo.
4. De 1968, música e poesia de invenção.
5. De 1968, só em meados da década de 1970, já estudante na UFMG, já embrenhado no Movimento Estudantil, é que fui me dar conta, para viver a máxima de Wladimir Maiakovski: “não há arte revolucionária, sem forma revolucionária”.
6. 1968, já foi lido por várias perspectivas (sociais, culturais, políticas, antropológicas, etc.). Mas a que mais coaduna com a multiface do momento – movimento é a da teoria sobre a história do alemão Walter Benjamin.
7. 1968 foi a explosão de um dique. De uma enorme represa. De várias épocas. Várias culturas. Várias batalhas.
8. 1968 foi a síntese do anarquismo primitivo com o materialismo dialético.
9. 1968 foi a síntese da psicodelia com os orientalismos-zen.
10. 1968 – uma definição: “Drop out” / “Pule fora” do sistema.
11. 1968 foi a síntese do hedonismo tântrico com a ira greveira e reivindicatória dos trabalhadores urbanos.
12. 1968 foi a síntese do coletivismo dos Provos e de suas bicicletas brancas com a guerrilha urbana.
13. 1968 foi a síntese de Eros com Thanatos.
14. 1968 foi a síntese de Karl Marx com os Irmãos Marx.
15. 1968 – uma definição: “Abaixo a ditadura” / “Abaixo TODAS as ditaduras”.
16. 1968 foi a síntese da Coca-Cola com o pão integral.
17. 1968 foi a síntese da mini-saia com a Teologia da Libertação.
18. 1968 foi a síntese da pílula anticoncepcional com o pós-Pré-Rafaelismo da moda-hippie.
19. 1968 foi a síntese do teatro de Brecht com o transtropicalismo do grupo Oficina, de Zé Celso.
20. 1968 – uma definição/perjúrio: “Se vocês forem em estética, o que são em política, estamos fritos!” – Caetano Veloso, no discurso-desabafo na canção-happening “É proibido proibir”.
21. 1968 foi a síntese do “the dream is over”, de John Lennon, com “Um, dez, mil Vietnãs”.
22. 1968 foi a síntese do Neodadá do Fluxus (George Maciunas, John Cage e Yoko Ono) com a poesia engajada e contestadora latino-americana.
23. 1968 – uma definição: o poema “Pós-tudo”, de Augusto de Campos: Quis / mudar tudo / mudei tudo / agora pós tudo / ex tudo / mudo.
24. 1968 foi a síntese da arte vitalista da Nouvelle Vague com o virtuosismo do Art-Rock.
25. 1968 foi a síntese do satori metafísico da Pop Art com a Arte Cinética (fria e cerebral).
26. 1968 – uma definição: “Nunca mais cinema arte / mas cinema arma” – Jean-Luc Godard.
27. 1968 foi a síntese dos “infinitos” e “incomíveis” vegetarianismos com as drogas sintéticas.
28. 1968 foi a síntese dos atentados em nome da Revolução com o pacifismo ecológico.
29. 1968 foi a síntese do enfretamento armado com a Pop Music.
30. 1968 foi a síntese do feminismo anglicano com um ônibus movido a ácido.
31. 1968 – uma definição: “É preciso estar atento e forte / não temos tempo de
temer à morte” – “Divino, maravilhoso”, de Gilberto Gil & Caetano Veloso.
32. 1968 foi a síntese de maoístas franceses (preparando um atentado a uma grande corporação yankee) com o canto hare-krishna.
33. 1968 – uma definição: “Quem sabe faz a hora não espera acontecer” – “Caminhando – Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré.
34. 1968 foi a síntese de Carlos Castañeda com o cerebralismo da Poesia Concreta.
35. 1968 foi a síntese da psicanálise estrutural de Jacques Lacan com a psicologia simbólica de Carl Gustav Jung.
36. 1968 foi a síntese da corrida “pacífica” pelos campos inabitáveis da Lua com o furor dos Black Panthers.
37. 1968 foi a síntese de um theremin experimental com um citar eólico.
38. 1968 foi a síntese da Internacional Situacionista com a “porra-louquice total”.
39. 1968 foi a síntese de Deus e o Diabo nas Quatro Estações.
40. 1968 – uma definição: “A fome do absoluto... eu tenho esta fome. Vem comigo, Sara! A vida está acima das horas que vivemos, a vida é uma aventura!” – Paulo Martins (poeta-político) para Sara – no filme “Terra em transe”, de Glauber Rocha.
41. 1968 foi a síntese da urgência uterina de Janis Joplin e da guitarra
lisérgica de Jimi Hendrix com a clarividência de Julian Beck.
42. 1968 foi a síntese da revolução (inconclusa) permanente de Che Guevara com o materialismo cotidiano de Fidel Castro.
43. 1968 foi a síntese da Primavera de Praga com o Outono do Patriarca.
44. 1968 foi a síntese da violência contra os atores da peça “Roda Viva” com Caetano Veloso declamando, irado, trecho do poema-livro “Mensagem”, de Fernando Pessoa.
45. 1968 foi a síntese do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de São Paulo, com o samba-réquiem “Aquele abraço”, de Gilberto Gil.
46. 1968 foi a síntese dos grafites pós-Pompéia – isto é, nas escavações nas
ruínas da cidade de Pompéia, na Itália, soterrada pelas lavras e poeiras do Vulcão Vesúvio -, o primeiro material encontrado foi uma pichação de um “saudável” palavrão”, ao quase acaso da canção-happening “Proibido proibir”, de Caetano Veloso: “O meu empresário Guilherme Araújo leu a frase 'é proibido proibir', achou lindo e me pediu uma canção. Eu falei pra ele que não sabia o que estava acontecendo na França, mas a frase era bonita. Fiz a canção e achei uma bobagem, deixei ela por muito tempo na gaveta.O en¬graçado é que ‘Proibido proibir’ ficou famosa no Bra¬sil não tanto por causa da canção, mas pelo escândalo”.
47. 1968 foi a síntese da ALN – Ação Libertadora Nacional “devolvendo” ao povo, através de “expropriações”, o “dinheiro” da usura capitalista, com a nascente Poesia Marginal, através dos poemas-notícias de Torquato Neto.
48. 1968 foi a síntese do Napalm, jogado covardemente sob o Vietnã, com o flower power hippie.
49. 1968 foi a síntese da Passeata dos Cem Mil, no centro do Rio de Janeiro, com o Black Power – entre funk e conscientização do negro afro-americano.
50. 1968 foi a síntese da VPR – Vanguarda Popular Revolucionária, de Carlos Lamarca, com o “E agora” do AI-5.
51. 1968 foi a síntese The Beatles “meditando” na Índia, com a Polônia em chamas.
52. 1968 foi a síntese da morte do estudante Édson Luís, assassinado por militares cariocas, que invadiram o restaurante universitário Calabouço, com Jim Morrison reencarnando, xamanicamente, Arthur Rimbaud.
53. 1968 foi a síntese de “2001 – Uma Odisséia no espaço”, de Stanley Kubrick, com o cinema-retrô-pop-experimental da Bel Air, de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane
54. 1968 foi a síntese da morte de outro Kennedy – Robert, com o som da Pilantragem e seu iê-iê-iê edulcorado.
55. 1968, no Brasil, tem um disco. O álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”. Com Caetano Veloso, Capinan, Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes, Nara Leão, Rogério Duprat e Torquato Neto.
56. 1968 – uma definição: “Seja marginal – Seja herói” – estandarte de Hélio Oiticica.
57. 1968 foi a síntese de Barbarella com as anti-pin-ups de Guido Crepax (Anita e Valentina).
58. 1968 é um cineasta Jean-Luc Godard. Gravitando no triênio 1967-1968-1969: “La chinoise”; “One plus one”; “Pravda”, com J.-H. Roger & Paul Burron; e “Vent d’Est”, com Jean Pierre Gorin – Grupo Dziga-Vertov. Com Glauber Rocha, em uma encruzilhada, perguntando sobre que direção a revolução deve/está tomando.
59. 1968 – um livro: “A sociedade do espetáculo” – de Guy Debord – remix pop-marxista da vida, no e sob o capitalismo, e de como agir.
60. 1968, no Brasil, ainda tem por trilha sonora: “Divino, maravilhoso”, de Gil & Caetano, com Gal Costa; “Domingo no parque”, de e com Gil; “Alegria, alegria”, de e com Caetano Veloso; “Caminhando – Pra não dizer que não falei de flores”, de e com Geraldo Vandré; “Soy loco por ti América”, de Gil & Capinan, com Caetano, com o LP “A banda tropicalista de Rogério Duprat”.
61. 1968 tem várias personas-ícones. Mas uma, que suicidou 50 anos antes, melhor traduz o incêndio. O poeta russo Wladimir Maiakovski. Que quis unir radicalmente duas díspares vontades tantálicas: a do amor total com a revolução total.
62. 1968 foi a voz oculta de Paulo Martins – citando Mário Faustino, no já mencionado “Terra em transe”, de Glauber Rocha: “Não conseguiu firmar o nome pacto / Entre o cosmos sangrento e a alma pura (...) (Tanta violência, mas tanta ternura)”.
63. 1968 nos ensinou que não é adequado lutar para estabelecer no poder líderes messiânicos, carismáticos ou autoritários.
64. 1968 nos ensinou que a desilusão e o fracasso são sempre maiores do que a derrubada da velha ordem.
65. 1968 nos ensinou, quase maoisticamente, que o fluxo, o refluxo e o contrafluxo da história é um dique.
66. De 1968, uma certeza, estamos em um “falso” “stand by”. As gotas já chegam com violência e ternura no dique. Até quando?
67. De 1968, uma incerteza, fiquemos, por ora, com o poema-réquiem de Alex Polari – “Idílica estudantil”: “Nossa geração teve pouco tempo / começou pelo fim / mas foi bela a nossa procura / ah! moça, como foi bela a nossa procura / mesmo com tanta ilusão perdida / quebrada / mesmo com tanto caco de sonho / onde até hoje / a gente se corta.
68. 1968 – uma definição: Viva la Revolucion.
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