Duplicação está prevista para 2015, mas o caos é presente e não pode esperar; políticos mineiros entram e saem e só prometem: nada fazem
*Denes Martins da Costa Lott
Era segunda feira. Dia lindo. Um belo sol de inverno ilumina o 28 de junho de 2010, dia de jogo de Copa do Mundo. Brasil e Chile disputaram uma vaga nas quartas de final da Copa da África do Sul. O país parou, vestiu suas chuteiras.
Amanheci em Belo Horizonte, depois de amargar uma viagem de Itabira, a minha terra “distante”: levei nada menos que seis horas. Isto mesmo. Esta longa distância mede 100 km.
A rodovia ainda tem dois nomes/números BR 381 ou 262. É uma vergonha: é nossa síndrome de vila-lata. Um vexame. Um acinte ao cidadão. Prova de nossas mazelas. Fraqueza de nossos políticos que nada fazem para mudar as coisas e o estado das coisas.
No fim de semana, descansando no meio rural de Itabira, lia o jornal de sábado. A notícia: nove mortos na 381, na sexta, 25 de junho. Além dos mortos, a “bela e moderna” estrada ficou paralisada por cerca de seis horas. No domingo, dia da volta para BH, outro grave acidente fechou novamente a estrada: virou norma, quase todo dia.
Já é parte de nosso cotidiano. Assim tem sido e, parece, assim será. Pior: vai continuar se agravando. Cada vez mais carros e menos estradas em boas condições. Só a Fiat fabrica 900 Unos por turno de trabalho, o que dá cerca de 1800 carros por dia.A frota cresce, as estradas ficam iguais: péssimas.
O que tem que ser feito?!!?
Fácil. Evidente. Duplicar BR 381. Reduzir as curvas. Usar a engenharia correta para uma estrada com tal movimento de veículos. Uma obra cara certamente, mas mais que necessária. Há muito tempo já está nos planos dos governos sua duplicação. Só nos planos.
Dependemos do Estado. A rodovia é um equipamento público e o ESTADO tem a obrigação de zelar, de mantê-la segura. Já que, cidadãos, pagamos altíssimos impostos para exercer o direito de ir e vir com segurança. Não só os automóveis: como somos um país das rodovias, na BR 381 as riquezas circulam de caminhão, muitos caminhões.
Eleitores que somos, deveríamos saber decidir quem vai nos governar pelos seus compromissos reais. E quando me refiro a ESTADO, coloco o termo como referência aos governos federal, estadual e municipais.
A rodovia que liga minha terra natal a Belo Horizonte é de responsabilidade da União. Mas sem vontade política estadual e prefeitos sem força política, ou também sem vontade, a União se acomoda.
Não conheço as estatísticas de mortes e vítimas que já ocorreram nesta estrada nos últimos 10 anos. Mas com certeza o número é assustador.
Também é assustador o volume de impostos que a região servida por esta estrada paga á União. Nela estão instaladas empresas com atuação no campo da mineração e siderurgia. Vale, Usiminas, ArcelorMital, Acesita, Samarco, entre outras. Qual o tamanho dos impostos pagos por essas empresas?
A população da minha cidade, que não é a maior da região, e ainda Ipatinga, Governador Valadares, João Monlevade, Nova Era, Coronel Fabriciano, Timóteo, Guanhães e muitas outras dependem desta estrada.
Qual o valor dos impostos que estas pessoas e empresas pagam? Refiro-me a IPVA, Imposto de Renda, a CID, que é incidente no valor dos combustíveis dos carros e caminhões que trafegam por essa rodovia. Qual é a parte do PIB gerado por essa região?
Qual o valor das vidas ceifadas nessa estrada, cujo epíteto de "rodovia da morte" não sensibiliza os nossos governantes? Qual o valor de se ficar parado seis horas num trecho de apenas 100 km?
A rodovia clama por uma intervenção há mais de 30 anos. Com certeza, tem no mínimo 20 anos que a situação é insustentável e só se agrava.
No meio desses últimos 20 anos, o senhor Aécio Neves, mineiro, ex-governador, hoje postulante a uma cadeira no Senado, foi, por algum tempo, presidente da Câmara dos Deputados no governo Fernando Henrique Cardoso. O que fizeram estes senhores para duplicar a rodovia? NADA
O senhor Itamar Franco, outro mineiro, foi governador do estado e presidente da República? O que foi feito em seus tempos de governo para a melhoria?
Um cidadão chamado Alexandre Silveira, hoje deputado federal eleito pela região, foi presidente do DNIT. O que fez para isto? Nada. Nem outros deputados estaduais e federais majoritários na região.
O Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente da República, trafegou por esta estrada na época da fundação de seu partido político. Em 1980 ele já fazia animados comícios em Itabira, no Vale do Aço e em toda região. Na época andava de carro e de ônibus.
O que faz o Senhor Lula, no seu último ano de governo? Diz ter incluído a duplicação da rodovia no PAC 2, mas para começar em 2015. Isto é nada. Porque o caos é presente e não pode esperar mais cinco anos.
O valoroso vice-presidente da República José Alencar, é mineiro, empresário de fama e de dinheiro, além de ocupar o cargo atual, foi senador da República. Mas a 381 continuou ganhando fama: rodovia da morte, não custa repetir.
Estes cidadãos, pessoas de bem, tiveram e têm ingerência nos órgãos irresponsáveis, leia-se DNIT, ANTT e Ministério dos Transportes. O problema é técnico? De falta de verba? Ou de vontade ou prioridade política?
Enquanto isso, a estrada para Curvelo e norte de Minas (via para Montes Claros) está sendo duplicada. Muito bom, mas onde está o maior fluxo de riquezas, caminhões, veículos e pessoas? Os políticos, prefeitos e deputados daquela região têm maior expressão, maior representatividade, maior peso político junto a União Federal ?
Talvez a morte de um ser humano não sensibilize a mente, a alma e o corpo de um dirigente político, nem 500, nem 1.000 por ano.
Será que só nos resta lamentar e culpar aqueles que se foram, porque teriam sido imprudentes? Não é só a imprudência, a estrada é imperfeita. Ou vamos apenas torcer pelo Brasil na Copa do Mundo? Mas agora só na de 2014, quando a 381 ainda estará sonhando com sua duplicação prometida para 2015.
Até quando?
* Itabirano, brasileiro, advogado, pai de 2 filhos, mora em Belo Horizonte, trabalha na Vale e é produtor rural em Itabira