segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Bernardo Mucida: Somos capazes de falar. (Hora de abrir a boca, itabiranos)

-  Safra nova de político em Itabira, Bernardo Mucida vem ganhando espaço na cidade do ferro da Vale (já foi de Itabira), de CDA e do Cometa (que anda atacado pela síndrome drummondiana). Aqui, em texto publicado no blog Filhos do Cauê, ele mostra o conformismo itabirano, desde o eterno cartel dos postos de combustíveis, que cobram há décadas os mesmos valores e o Ministério Público nunca pune ninguém e todo mundo se cala, só reclama à boca pequena, até os desmandos da administração municipal, como o aumento de mais de 30% na água e o desmatamento da Mata do Intelecto - Seo Intelecto, cadê você?, porque a mídia itabirana quase toda se cala a troco de quase nada. E o povo apenas lamenta. Leiam a análise de Mucida. 
   
Originalmente em: Filhos do Cauê 

A gente se acostuma a ir ao posto de gasolina e abastecer o carro em qualquer posto da cidade, porque sabe que todos os postos praticam o mesmo preço e os aumentam juntos e ao mesmo tempo.

E se acostuma a ver os preços unificados, porque não existe concorrência. Mas a gente não diz nada, e sorri ao frentista porque ele é amigo e ninguém quer mesmo saber se há algo errado com os preços unificados.

A gente descobre que a água vai aumentar mais de 33%, mas prefere reclamar do aumento da água sem reduzir o tempo do banho, e pagar mais caro pela água que a gente consome, mesmo sabendo que a água é mais cara porque ela é usada para poder vender nosso minério.

Mas a gente aceita vender nossa água junto com nosso minério.

A gente pensa que vale a pena pagar mais caro pela água para vender muito minério porque emprega muita gente e arrecada muito imposto. E sempre tem um amigo empregado no negócio do minério.

E todo mundo quer viver numa cidade rica. Então, não dizemos nada.

A gente se acostuma a viver numa cidade muita rica sem ver o benefício dessa riqueza. A gente vê casas sem água potável e esgoto, ruas sem asfalto. Mas pensa que um dia as coisas vão melhorar quando mudarem as pessoas que tomam as decisões.

Então, não dizemos nada, porque em breve tudo pode mudar.

Pagamos mais caro pela nossa água para sermos mais ricos, mas não temos acesso a nossa riqueza; e ainda assim, nós não dizemos nada.

Então, porque não dizemos nada, eles derrubam a mata no centro da cidade e vendem lotes para as pessoas que os compram.

Porque é preciso ter mais dinheiro para a cidade ser mais rica, porque ainda é pouco o dinheiro arrecadado com a venda dos lotes, da água e do minério. Por isso, aumentam-se as taxas e os impostos.

Até um dia em que você nota que paga mais caro pela água e pela gasolina, pelas taxas e pelos impostos, mas que não recebe nada em troca.

Mas por estar tão acostumado a permanecer calado, já não é capaz mais de falar...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Tropeirão Ilustrado - encontrão de desenhistas do Matto-Dentro em Itabira

Tropeiro, ovo frito, lombo, cachaça e arte gráfica,



Encontro de artistas em Itabira, seguirá tendência que começou em SP e se espalhou pelo país











Marcelo Procopio

   Em agosto passado um repórter da revista Encontro, aqui de BH, liga para saber minha opinião sobre o 1° BHHumor – Salão Internacional de Humor Gráfico: “alta qualidade, obras do país todo e do mundo”, fui falando.

   Quis saber mais:
   - “Minas é o maior celeiro de cartunistas. Numa seleção, haveria 11 mineiros titulares?”.

   Respondi direto: “Não acho, o Brasil é o celeiro. Numa seleção de 11, colocaria três ou quatro mineiros”. Discorri sobre realidade e potencial da arte gráfica no Brasil e no mundo.
Não saiu uma linha. Não era a resposta que o repórter ou a revista queriam.


  Aí converso, agora em junho, com o cartunista/ilustrador Laz Muniz (todo cartunista é ilustrador, alguns artistas gráficos são plásticos e nem todo fazem humor: todos são desenhistas).Conta que em Itabira estão criando o Tropeirão Ilustrado: ele e Pablo Rocha.

  Isto faz parte de uma onda que começou há quatro anos em SP, o Bistecão Ilustrado, que seguiu com Costelão Ilustrado em Curitiba, o Rabiscão de Brasília, Berbigão de Florianópolis,Trem Bão de BH, Baião Ilustrado de Fortaleza e o do Rio.
  O Tropeirão segue a mesma linha: encontro de ilustradores. desenhistas e aficcionados, não apenas cartunistas.

  Diz o Laz:
  “A ideia é um encontrão mesmo, onde artistas se reúnem pra trocar experiências, informação, discutir direitos autorais, caminhos, ensinar a quem quiser, mostrar, fazer contato, exibir, aprender. A gente vai usar os forros de mesa pra desenhar, depois viram livretinhos pra distribuir nos próximos encontros.”

  Começa entre agosto e setembro e será bimestral. Convidará ilustradores de BH e outras cidades. Lançará revistas, como a Graffiti e Arroz Integral. Ah, e convidará também a melhor 'tropeirista' do Matto-Dentro, cozinheira de mão cheia de Ipoema.

  Porque tudo é regado a desenho, conversa, cerveja e tropeiro. Imperdível.
Hora do patrocínio. Não o santo. O do município e empresários. Alô, FCCDA, olhai mais uma iniciativa vindo de fora da política oficial.

  Se ninguém ouvir, o Tropeirão sai assim mesmo. A cada dois meses num lugar. Num bar.

Saiba mais em http://tropeirao.blogspot.com/
(e em http://costelaoilustrado.blogspot.com/ ) - para saber sobre os outros encontrões.


PS
Manifesto pela cultura itabirana

Não só ilustradores se mobilizam em Itabira. Pessoal ligado à cultura está se reunindo (Mauro Moura à frente) e já lançou um Manifesto pela Cultura. Querem uma política cultural para a cidade. O que nunca existiu. Querem respostas da FCCDA e da Prefeitura. Estão fazendo a parte deles. Mais, depois, neste Cometa de papel e no cometaon.blogspot.com. Parece que a coisa anda mal, ou melhor: não anda na Itabira oficial. Leia também em http://www.lestemais.com.br

terça-feira, 6 de julho de 2010

Itabira/BH: a longa viagem na rodovia da morte

Duplicação está prevista para 2015, mas o caos é presente e não pode esperar; políticos mineiros entram e saem e só prometem: nada fazem

*Denes Martins da Costa Lott

Era segunda feira. Dia lindo. Um belo sol de inverno ilumina o 28 de junho de 2010, dia de jogo de Copa do Mundo. Brasil e Chile disputaram uma vaga nas quartas de final da Copa da África do Sul. O país parou, vestiu suas chuteiras.

Amanheci em Belo Horizonte, depois de amargar uma viagem de Itabira, a minha terra “distante”: levei nada menos que seis horas. Isto mesmo. Esta longa distância mede 100 km.

A rodovia ainda tem dois nomes/números BR 381 ou 262. É uma vergonha: é nossa síndrome de vila-lata. Um vexame. Um acinte ao cidadão. Prova de nossas mazelas. Fraqueza de nossos políticos que nada fazem para mudar as coisas e o estado das coisas.

No fim de semana, descansando no meio rural de Itabira, lia o jornal de sábado. A notícia: nove mortos na 381, na sexta, 25 de junho. Além dos mortos, a “bela e moderna” estrada ficou paralisada por cerca de seis horas. No domingo, dia da volta para BH, outro grave acidente fechou novamente a estrada: virou norma, quase todo dia.

Já é parte de nosso cotidiano. Assim tem sido e, parece, assim será. Pior: vai continuar se agravando. Cada vez mais carros e menos estradas em boas condições. Só a Fiat fabrica 900 Unos por turno de trabalho, o que dá cerca de 1800 carros por dia.A frota cresce, as estradas ficam iguais: péssimas.

O que tem que ser feito?!!?
Fácil. Evidente. Duplicar BR 381. Reduzir as curvas. Usar a engenharia correta para uma estrada com tal movimento de veículos. Uma obra cara certamente, mas mais que necessária. Há muito tempo já está nos planos dos governos sua duplicação. Só nos planos.

Dependemos do Estado. A rodovia é um equipamento público e o ESTADO tem a obrigação de zelar, de mantê-la segura. Já que, cidadãos, pagamos altíssimos impostos para exercer o direito de ir e vir com segurança. Não só os automóveis: como somos um país das rodovias, na BR 381 as riquezas circulam de caminhão, muitos caminhões.

Eleitores que somos, deveríamos saber decidir quem vai nos governar pelos seus compromissos reais. E quando me refiro a ESTADO, coloco o termo como referência aos governos federal, estadual e municipais.

A rodovia que liga minha terra natal a Belo Horizonte é de responsabilidade da União. Mas sem vontade política estadual e prefeitos sem força política, ou também sem vontade, a União se acomoda.

Não conheço as estatísticas de mortes e vítimas que já ocorreram nesta estrada nos últimos 10 anos. Mas com certeza o número é assustador.

Também é assustador o volume de impostos que a região servida por esta estrada paga á União. Nela estão instaladas empresas com atuação no campo da mineração e siderurgia. Vale, Usiminas, ArcelorMital, Acesita, Samarco, entre outras. Qual o tamanho dos impostos pagos por essas empresas?

A população da minha cidade, que não é a maior da região, e ainda Ipatinga, Governador Valadares, João Monlevade, Nova Era, Coronel Fabriciano, Timóteo, Guanhães e muitas outras dependem desta estrada.
Qual o valor dos impostos que estas pessoas e empresas pagam? Refiro-me a IPVA, Imposto de Renda, a CID, que é incidente no valor dos combustíveis dos carros e caminhões que trafegam por essa rodovia. Qual é a parte do PIB gerado por essa região?

Qual o valor das vidas ceifadas nessa estrada, cujo epíteto de "rodovia da morte" não sensibiliza os nossos governantes? Qual o valor de se ficar parado seis horas num trecho de apenas 100 km?

A rodovia clama por uma intervenção há mais de 30 anos. Com certeza, tem no mínimo 20 anos que a situação é insustentável e só se agrava.

No meio desses últimos 20 anos, o senhor Aécio Neves, mineiro, ex-governador, hoje postulante a uma cadeira no Senado, foi, por algum tempo, presidente da Câmara dos Deputados no governo Fernando Henrique Cardoso. O que fizeram estes senhores para duplicar a rodovia? NADA

O senhor Itamar Franco, outro mineiro, foi governador do estado e presidente da República? O que foi feito em seus tempos de governo para a melhoria?

Um cidadão chamado Alexandre Silveira, hoje deputado federal eleito pela região, foi presidente do DNIT. O que fez para isto? Nada. Nem outros deputados estaduais e federais majoritários na região.

O Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente da República, trafegou por esta estrada na época da fundação de seu partido político. Em 1980 ele já fazia animados comícios em Itabira, no Vale do Aço e em toda região. Na época andava de carro e de ônibus.
O que faz o Senhor Lula, no seu último ano de governo? Diz ter incluído a duplicação da rodovia no PAC 2, mas para começar em 2015. Isto é nada. Porque o caos é presente e não pode esperar mais cinco anos.

O valoroso vice-presidente da República José Alencar, é mineiro, empresário de fama e de dinheiro, além de ocupar o cargo atual, foi senador da República. Mas a 381 continuou ganhando fama: rodovia da morte, não custa repetir.

Estes cidadãos, pessoas de bem, tiveram e têm ingerência nos órgãos irresponsáveis, leia-se DNIT, ANTT e Ministério dos Transportes. O problema é técnico? De falta de verba? Ou de vontade ou prioridade política?

Enquanto isso, a estrada para Curvelo e norte de Minas (via para Montes Claros) está sendo duplicada. Muito bom, mas onde está o maior fluxo de riquezas, caminhões, veículos e pessoas? Os políticos, prefeitos e deputados daquela região têm maior expressão, maior representatividade, maior peso político junto a União Federal ?

Talvez a morte de um ser humano não sensibilize a mente, a alma e o corpo de um dirigente político, nem 500, nem 1.000 por ano.

Será que só nos resta lamentar e culpar aqueles que se foram, porque teriam sido imprudentes? Não é só a imprudência, a estrada é imperfeita. Ou vamos apenas torcer pelo Brasil na Copa do Mundo? Mas agora só na de 2014, quando a 381 ainda estará sonhando com sua duplicação prometida para 2015.

Até quando?

* Itabirano, brasileiro, advogado, pai de 2 filhos, mora em Belo Horizonte, trabalha na Vale e é produtor rural em Itabira

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A arte a a arte de Fernando Fiuza: para não esquecer



Piscando os olhos

Flertando com pensamentos

Passo as mãos pela pele

Despertando desejos

Sentido o ranger dos dentes

Com a boca fechada

Para a saliva não virar

Baba

Umedeço os lábios

Procurando segundos

De um prazer que se encontra

Atrás daquela esquina

Chamada memória

Fernando Fiuza 19/11/07

http://fernandofiuza.blogspot.com/

terça-feira, 1 de junho de 2010

"Imprensa alternativa não disputa hegemonia"

Altamiro Borges reproduz entrevista de Daniel Cassol, do Brasil de Fato à jornalista Candice Cresqui - originalmente publicada em Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação


"Minha pesquisa toca pouco nas questões administrativas e políticas do jornal, pois minha opção foi sempre compreender que tipo de jornalismo é feito pelo Brasil de Fato. Mas é possível dizer que a existência de uma unidade mínima em torno do jornal, liderada pela Consulta Popular (saiba mais) e pelo Movimento Sem Terra (MST), garante a permanência do Brasil de Fato ao longo dos anos."


http://altamiroborges.blogspot.com/2010/06/imprensa-alternativa-nao-disputa.html

terça-feira, 25 de maio de 2010

68 POR 68 - 40 anos depois

uma definição: Viva la Revolucion



Marcelo Dolabela
- Originalmente em O Cometa Im(presso), maio de 2008

1. Em 1968, eu tinha 11 anos e morava, em Lajinha, Zona Da Mata mineira, com a minha “grande família”, avó, avô, mãe, pai e seis irmãos.

2. De 1968, lembro-me muito pouco. Curiosamente, lembro-me muito mais de 1964, das noites fatídicas de 31 de março e de 1º de abril. Das minhas tias rezando, sem saber bem o que estava acontecendo.

3. De 1968, lembro-de de duas únicas cenas. Copiando a letra de “Batmacumba”, de uma revista tipo “Grande Hotel”, e do encanto com um artigo de um jornal carioca sobre o Poema-Processo.

4. De 1968, música e poesia de invenção.

5. De 1968, só em meados da década de 1970, já estudante na UFMG, já embrenhado no Movimento Estudantil, é que fui me dar conta, para viver a máxima de Wladimir Maiakovski: “não há arte revolucionária, sem forma revolucionária”.

6. 1968, já foi lido por várias perspectivas (sociais, culturais, políticas, antropológicas, etc.). Mas a que mais coaduna com a multiface do momento – movimento é a da teoria sobre a história do alemão Walter Benjamin.

7. 1968 foi a explosão de um dique. De uma enorme represa. De várias épocas. Várias culturas. Várias batalhas.

8. 1968 foi a síntese do anarquismo primitivo com o materialismo dialético.

9. 1968 foi a síntese da psicodelia com os orientalismos-zen.

10. 1968 – uma definição: “Drop out” / “Pule fora” do sistema.

11. 1968 foi a síntese do hedonismo tântrico com a ira greveira e reivindicatória dos trabalhadores urbanos.

12. 1968 foi a síntese do coletivismo dos Provos e de suas bicicletas brancas com a guerrilha urbana.

13. 1968 foi a síntese de Eros com Thanatos.

14. 1968 foi a síntese de Karl Marx com os Irmãos Marx.

15. 1968 – uma definição: “Abaixo a ditadura” / “Abaixo TODAS as ditaduras”.

16. 1968 foi a síntese da Coca-Cola com o pão integral.

17. 1968 foi a síntese da mini-saia com a Teologia da Libertação.

18. 1968 foi a síntese da pílula anticoncepcional com o pós-Pré-Rafaelismo da moda-hippie.

19. 1968 foi a síntese do teatro de Brecht com o transtropicalismo do grupo Oficina, de Zé Celso.

20. 1968 – uma definição/perjúrio: “Se vocês forem em estética, o que são em política, estamos fritos!” – Caetano Veloso, no discurso-desabafo na canção-happening “É proibido proibir”.

21. 1968 foi a síntese do “the dream is over”, de John Lennon, com “Um, dez, mil Vietnãs”.

22. 1968 foi a síntese do Neodadá do Fluxus (George Maciunas, John Cage e Yoko Ono) com a poesia engajada e contestadora latino-americana.

23. 1968 – uma definição: o poema “Pós-tudo”, de Augusto de Campos: Quis / mudar tudo / mudei tudo / agora pós tudo / ex tudo / mudo.

24. 1968 foi a síntese da arte vitalista da Nouvelle Vague com o virtuosismo do Art-Rock.

25. 1968 foi a síntese do satori metafísico da Pop Art com a Arte Cinética (fria e cerebral).

26. 1968 – uma definição: “Nunca mais cinema arte / mas cinema arma” – Jean-Luc Godard.

27. 1968 foi a síntese dos “infinitos” e “incomíveis” vegetarianismos com as drogas sintéticas.

28. 1968 foi a síntese dos atentados em nome da Revolução com o pacifismo ecológico.

29. 1968 foi a síntese do enfretamento armado com a Pop Music.

30. 1968 foi a síntese do feminismo anglicano com um ônibus movido a ácido.

31. 1968 – uma definição: “É preciso estar atento e forte / não temos tempo de
temer à morte” – “Divino, maravilhoso”, de Gilberto Gil & Caetano Veloso.

32. 1968 foi a síntese de maoístas franceses (preparando um atentado a uma grande corporação yankee) com o canto hare-krishna.

33. 1968 – uma definição: “Quem sabe faz a hora não espera acontecer” – “Caminhando – Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré.

34. 1968 foi a síntese de Carlos Castañeda com o cerebralismo da Poesia Concreta.

35. 1968 foi a síntese da psicanálise estrutural de Jacques Lacan com a psicologia simbólica de Carl Gustav Jung.

36. 1968 foi a síntese da corrida “pacífica” pelos campos inabitáveis da Lua com o furor dos Black Panthers.

37. 1968 foi a síntese de um theremin experimental com um citar eólico.

38. 1968 foi a síntese da Internacional Situacionista com a “porra-louquice total”.

39. 1968 foi a síntese de Deus e o Diabo nas Quatro Estações.

40. 1968 – uma definição: “A fome do absoluto... eu tenho esta fome. Vem comigo, Sara! A vida está acima das horas que vivemos, a vida é uma aventura!” – Paulo Martins (poeta-político) para Sara – no filme “Terra em transe”, de Glauber Rocha.

41. 1968 foi a síntese da urgência uterina de Janis Joplin e da guitarra
lisérgica de Jimi Hendrix com a clarividência de Julian Beck.

42. 1968 foi a síntese da revolução (inconclusa) permanente de Che Guevara com o materialismo cotidiano de Fidel Castro.

43. 1968 foi a síntese da Primavera de Praga com o Outono do Patriarca.

44. 1968 foi a síntese da violência contra os atores da peça “Roda Viva” com Caetano Veloso declamando, irado, trecho do poema-livro “Mensagem”, de Fernando Pessoa.

45. 1968 foi a síntese do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de São Paulo, com o samba-réquiem “Aquele abraço”, de Gilberto Gil.

46. 1968 foi a síntese dos grafites pós-Pompéia – isto é, nas escavações nas
ruínas da cidade de Pompéia, na Itália, soterrada pelas lavras e poeiras do Vulcão Vesúvio -, o primeiro material encontrado foi uma pichação de um “saudável” palavrão”, ao quase acaso da canção-happening “Proibido proibir”, de Caetano Veloso: “O meu empresário Guilherme Araújo leu a frase 'é proibido proibir', achou lindo e me pediu uma canção. Eu falei pra ele que não sabia o que estava acontecendo na França, mas a frase era bonita. Fiz a canção e achei uma bobagem, deixei ela por muito tempo na gaveta.O en¬graçado é que ‘Proibido proibir’ ficou famosa no Bra¬sil não tanto por causa da canção, mas pelo escândalo”.

47. 1968 foi a síntese da ALN – Ação Libertadora Nacional “devolvendo” ao povo, através de “expropriações”, o “dinheiro” da usura capitalista, com a nascente Poesia Marginal, através dos poemas-notícias de Torquato Neto.

48. 1968 foi a síntese do Napalm, jogado covardemente sob o Vietnã, com o flower power hippie.

49. 1968 foi a síntese da Passeata dos Cem Mil, no centro do Rio de Janeiro, com o Black Power – entre funk e conscientização do negro afro-americano.

50. 1968 foi a síntese da VPR – Vanguarda Popular Revolucionária, de Carlos Lamarca, com o “E agora” do AI-5.

51. 1968 foi a síntese The Beatles “meditando” na Índia, com a Polônia em chamas.

52. 1968 foi a síntese da morte do estudante Édson Luís, assassinado por militares cariocas, que invadiram o restaurante universitário Calabouço, com Jim Morrison reencarnando, xamanicamente, Arthur Rimbaud.

53. 1968 foi a síntese de “2001 – Uma Odisséia no espaço”, de Stanley Kubrick, com o cinema-retrô-pop-experimental da Bel Air, de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane

54. 1968 foi a síntese da morte de outro Kennedy – Robert, com o som da Pilantragem e seu iê-iê-iê edulcorado.

55. 1968, no Brasil, tem um disco. O álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”. Com Caetano Veloso, Capinan, Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes, Nara Leão, Rogério Duprat e Torquato Neto.

56. 1968 – uma definição: “Seja marginal – Seja herói” – estandarte de Hélio Oiticica.

57. 1968 foi a síntese de Barbarella com as anti-pin-ups de Guido Crepax (Anita e Valentina).

58. 1968 é um cineasta Jean-Luc Godard. Gravitando no triênio 1967-1968-1969: “La chinoise”; “One plus one”; “Pravda”, com J.-H. Roger & Paul Burron; e “Vent d’Est”, com Jean Pierre Gorin – Grupo Dziga-Vertov. Com Glauber Rocha, em uma encruzilhada, perguntando sobre que direção a revolução deve/está tomando.

59. 1968 – um livro: “A sociedade do espetáculo” – de Guy Debord – remix pop-marxista da vida, no e sob o capitalismo, e de como agir.

60. 1968, no Brasil, ainda tem por trilha sonora: “Divino, maravilhoso”, de Gil & Caetano, com Gal Costa; “Domingo no parque”, de e com Gil; “Alegria, alegria”, de e com Caetano Veloso; “Caminhando – Pra não dizer que não falei de flores”, de e com Geraldo Vandré; “Soy loco por ti América”, de Gil & Capinan, com Caetano, com o LP “A banda tropicalista de Rogério Duprat”.

61. 1968 tem várias personas-ícones. Mas uma, que suicidou 50 anos antes, melhor traduz o incêndio. O poeta russo Wladimir Maiakovski. Que quis unir radicalmente duas díspares vontades tantálicas: a do amor total com a revolução total.

62. 1968 foi a voz oculta de Paulo Martins – citando Mário Faustino, no já mencionado “Terra em transe”, de Glauber Rocha: “Não conseguiu firmar o nome pacto / Entre o cosmos sangrento e a alma pura (...) (Tanta violência, mas tanta ternura)”.

63. 1968 nos ensinou que não é adequado lutar para estabelecer no poder líderes messiânicos, carismáticos ou autoritários.

64. 1968 nos ensinou que a desilusão e o fracasso são sempre maiores do que a derrubada da velha ordem.

65. 1968 nos ensinou, quase maoisticamente, que o fluxo, o refluxo e o contrafluxo da história é um dique.

66. De 1968, uma certeza, estamos em um “falso” “stand by”. As gotas já chegam com violência e ternura no dique. Até quando?

67. De 1968, uma incerteza, fiquemos, por ora, com o poema-réquiem de Alex Polari – “Idílica estudantil”: “Nossa geração teve pouco tempo / começou pelo fim / mas foi bela a nossa procura / ah! moça, como foi bela a nossa procura / mesmo com tanta ilusão perdida / quebrada / mesmo com tanto caco de sonho / onde até hoje / a gente se corta.

68. 1968 – uma definição: Viva la Revolucion.